Secar umas garrafas com... Pingus Vinicus

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Quis o acaso do destino que o primeiro convidado do "Secar umas garrafas com..." fosse o Pingus Vinicus, personagem do "xôr professor" Rui Miguel Massa, a quem já se pode chamar um jurássico do mundo dos blogs de vinhaça.
Era para ser um jantar com mais pessoas, mas uns armaram-se em cortes e aproveitámos para meter isto em prática, antes que passassem mais 3 anos desde que a ideia surgiu.

O blog dele, Pingas no Copo, é dos que mais gosto de ler. Gosto de ler pela diferença, pela paixão, por ser parcial e não se importar com isso, pelas divagações meio alucinadas que nos transportam para cenários que poderiam ser de um filme do David Lynch se ele gravasse umas cenas no Dão (no fim não temos a certeza se percebemos).
Como já escrevi algures, muitas vezes leio o que ele escreve sobre um determinado vinho duas ou três vezes e fico sem saber se ele gostou ou não. Mas, who cares?, notas de prova há por aí aos pontapés e já nem para as minhas tenho paciência.

Quanto a pingas “às escuras”, combinámos que ele trazia um tinto e eu abria um branco, pelo qual começámos.

Sendo ele um apaixonado do Dão e, assumidamente, contra um estilo de vinhos mais comerciais, nada melhor do que escolher um vinho feito por um dos enólogos cujos vinhos ele normalmente não aprecia.
Foi um vinho que levantou muitas dúvidas sobre a origem, podia perfeitamente não ser português. Com 5 anos e cor bastante carregada, na boca era corpulento mas tinha uma acidez bem viva que o mantinha sempre interessante e foi muito versátil, acompanhando muito bem queijos, enchidos, tostas de chévre e vieiras.
O pior é que ele gostou. Depois de algumas tiradas “à Pingus” (como eu gosto de chamar quando saem disparadas da boca para fora sem reflexão prévia), cheguei a temer que o homem  se atirasse da janela quando desvendámos o rótulo.

Era um PL/LR Velho Mundo VIII (2008) um branco feito pelo Paulo Laureano, em parceria com a Quinta da Casa Amarela. 50% é Antão Vaz, do Alentejo pois claro, e o resto é um lote duriense com Gouveio, Viosinho e Malvasia.

 

A garrafa que ele trouxe tinha formato borgonhês (para quem não quer saber dessas mariquices, uma daquelas gordas)  e, vindo do Pingus, virei-me logo para um Dão.

Aromas iniciais a mostrar um vinho já com uns aninhos, mas foi ficando "cada vez mais novo” conforme passava o tempo. Aquela elegância e frescura também a levar-me pensar que era Dão. Mas era, acima de tudo, um grande vinho.

Entretanto ele lixou-me, pois perguntou-me que produtor do Dão poderia fazer um vinho com aquele estilo... E, de facto, não me lembrava. Ainda atirei para o ar a Sogrape, nunca imaginei estar tão “quente”, mas não me lembrava de nenhum vinho deles do Dão que pudesse corresponder ao que tínhamos no copo. Só se fosse o Único, mas este era certamente muito mais velho do que o primeiro Único.

Mas o meu cérebro estava demasiado formatado para o Dão e não saí dali nem por nada. Mas devia, pois era um bocadinho mais a norte, no Douro. Um Ferreirinha Reserva Especial 1997, um quase Barca Velha que, para nossa sorte, não o foi e custa estupidamente menos.

Um gajo hoje em dia prova vinhos do Douro e dificilmente encontra um com este perfil.

 

No fim, para acompanhar as lambarices, ainda se bebeu um Domingos Soares Franco Colecção Privada Moscatel Roxo 2004, que é uma presença obrigatória cá em casa.

O Pingus foi mais rápido que a própria sombra e, por isso, publicou algo sobre o assunto logo no dia a seguir ao jantar.

Chiça, como eu gostava de ter esta capacidade (e tempo) de escrever assim tão depressa.