Num curto espaço de tempo (ao longo de três dias) tive a oportunidade de juntar três experiências interessantes, no Porto - a Essência do Gourmet integrada com a Wine & Tapas Experience e um almoço de apresentação da aposta na Nova Zelândia da Sogrape, a Framingham.
"O Barca Velha estava quente"... hmm? "Sim, o Barca Velha estava quente.". Estava a acabar de provar o Casa Ferreirinha Reserva Especial 2001, enquanto conversava com o Eng. Manuel Vieira - da Quinta dos Carvalhais - e apercebi-me que deixei passar a prova de Barca Velha 2000. Enquanto chegavam os primeiros testemunhas - a prova havia de repetir-se nos dias seguintes - oiço mais alguns testemunhos: "Sim, estava absolutamente divinal - mas a sala é pequena, e estava muita gente. Estava quente."
"Se é assim, vou refrescar já o meu vinho" - o Eng. Manuel Vieira desapareceu, e dirigi-me então para a zona das tapas. Para além dos nacionais Álvaro Costa, Fernando Santos, Luís Américo e Nuno Inverneiro, estava também presente a Chef Anna Hansen (Londres) - todos responsáveis por pequenas experiências de tapas que, conjugadas com um ou outro copo de vinho, fizeram as delícias dos presentes.
Quinta dos Carvalhais - com um muito interessante colheita tardia (eu já conhecia o resto dos vinhos presentes) - e Casa Ferreirinha foram claramente as presenças fortes, sendo ainda de referir a presença da Framingham - a "tal" aquisição da Sogrape na Nova Zelândia que já nessa altura me impressionou com os Riesling em prova. Mas sobre a Framingham... haveria mais a dizer.
No dia seguinte, perto das 11.30, Casa da Música no Porto, com muitas presenças do grupo - Enólogos, responsáveis financeiros, etc - claramente uma demonstração da força da aposta da Sogrape neste novo território - foi apresentada a produção da Framingham, da Nova Zelândia. Conheci o Tom Trolove, o responsável pela marca, com quem aprendi uma parte importante da história da Framingham, mesmo antes de a prova ter começado.
Na sala de prova, foi-nos dado um pouco do contexto da Nova Zelândia - mais propriamente Marlborough - onde é rainha a casta Sauvignon Blanc (com cerca de 73%), ainda que haja também uma presença importante de Chardonnay, Pinot Gris e Riesling, ao que se seguiu uma apresentação da Framingham (equipa, práticas, mais-valias, número e tipo de vindimas, etc), que não é uma produção de quantidade, mas de qualidade. Os comentadores (Tom Trolove, António Braga e Beatriz de Almeida) fizeram um excelente trabalho, não só pela qualidade e quantidade da informação transmitida, mas também pela interactividade da prova, respondendo a todas as questões.
O sol que se fazia sentir não ajudou o início da prova (tinha estado bem mais fresco até esse dia), mas pouco a pouco o ambiente começou a arrefecer, e a prova seguiu-se num ritmo confortável, alternando entre prova e comentários.
Uma característica comum a praticamente todos os vinhos é a presença da acidez natural - muito relacionada com as condições únicas da Nova Zelândia, e de Marlborough em particular: influência do clima marítimo (portanto, fresco); até cerca de 15m acima do nível do mar e muito influenciado pelos mineirais presentes no que era antes o leito de um rio. Uma outra influência é, naturalmente, o enólogo Andrew Hedley, Dr. - com formação em medicina e química orgânica, que não esconde a influência da Alemanha e Itália nos seus vinhos.
Começamos pelo Framingham 2009 Sauvignon Blanc - suave, doce, e com uma boa acidez, com notas tropicais e minerais, passando de seguida para o Dry Riesling 2004 onde se encontram notas de mel, alguma tosta e um pouco de notas florais. Este último impressionou-me, uma vez que não passa em madeira - aliás, a maior parte fermenta em inox - e tem notas que muitos vinhos sõ conseguem ir buscar em madeira. Na gama dos Riesling, passamos ainda pelo 2008 Classic Riesling (citrino, mineral) e pelo 2009 Select Riesling, que é dos três o que mais me agradou, e cuja vindima é a terceira passagem da vinha.
Na lista faltava ainda o Pinot Gris de 2009 (característico floral, caramelo, especiarias, com um excelente corpo) e o Gewurztraminer 2009. Alguns minutos depois ouvi um comentário do George Sandeman, durante o almoço, dizendo que este é a interpretação Gewurztraminer como ele deveria ser - e como eu o adoro: exótico, doce, sedoso, com um excelente aroma a rosas.
Por fim, não podia faltar o 2009 Noble Riesling, ideal para ligar com queijos, com um estilo que me agrada: doce, mas não em demasia, e com baixo teor alcoólico. Durante o almoço que se seguiu - no qual tive o privilégio de estar em frente a um tal de George Sandeman, entre o Miguel Pessanha e o Nuno Pires (Wine) e em amena cavaqueira com o Tom Trolove. Fomos agraciados com um almoço absolutamente delicioso, confeccionado pela Chef Anna Hansen (no The Modern Pantry), que foi também responsável pelo casamento com os vinhos da Sogrape, no último andar da Casa da Música. Não é todos os dias que, para além do Dry Riesling da Framingham, se passa pela Casa Ferreirinha Reserva Especial 2001 e pelo (novo) topo de gama, ainda sem nome, da Herdade do Peso, devidamente apresentados pelos seus enólogos.
No domingo, ainda durante a manhã, o último cartucho no Palácio da Bolsa, para os cursos de cozinha (mais para ver e provar do que aprender, no meu caso) e para mais uma prova da Framingham (o Riesling ficou registado na minha lista de compras). Como se começava a aproximar a hora do almoço - e, como se pode ver nas fotografias, o espaço começou a ficar menos confortável - deixamos os corredores do balcão superior e descemos para a zona das aulas. Curioso o facto de existirem várias aulas temáticas (Cozinhar com estilo; Solteiros na Cozinha; Jantares de amigos; Um ás na cozinha; Cozinhar depressa e bem; etc) cada uma com o seu Chef respectivo. Dado o reduzido número de lugares em cada um (até para manter uma qualidade mínima), reservei a presença na área do Chefe Gemelli e passei ainda pela área de provas da Sogrape, para uma nova passagem pelo Riesling - divinal, até pelo facto de a sala começar a ficar quente.
Nesta aula de cozinha, aprendemos a fazer uma sopa de meloa com rúcola e pá de porco fumado (em 5 minutos!); um rolinho primavera com fiambre de perú e por fim um excelente caril de arroz aromático com camarão e fiambre fumado. Fiquei ainda uns minutos a conversar com o Chefe Gemelli, mas estava chegada a hora de sair - já com a sala muito quente - e dar lugar aos muitos visitantes.
Estarei lá certamente no próximo ano - esperando chegar a tempo da prova de Barca Velha 2000, se - Sogrape oiça - houver!