Após uma manhã com o seu quê de agradável, à tarde não houve descanso e fomos até à J.H.Andresen.
À nossa espera junto à estação de comboios de Vila Nova de Gaia (Devesas, carago!), estava Carlos Flores dos Santos, proprietário e administrador da companhia. Reunidas as tropas, dirigimo-nos então ao edifício onde iria decorrer a prova que, visto de fora, parecia um prédio de habitação normal. Entrámos, atravessámos a zona de escritórios e a sala de provas, onde o enólogo Álvaro Van Zeller tinha as coisas a postos para nós, e iniciámos uma visita pelo edifício.
A Andresen é uma pequena casa de Vinho do Porto, o que mesmo assim implica que necessite de muito espaço. Aquelas instalações, que não são tão pequenas quanto isso, são apenas um de vários armazéns. Em boa parte isso deve-se à lei do terço que faz com que as empresas tenham sempre muito vinho armazenado que não pode ser vendido.
O edifício não é um daqueles todos bonitinhos para visitas, é essencialmente um edifício de trabalho. Mas onde há barricas e tonéis, há sempre alguma beleza. Até há bem pouco tempo a Andresen nem sequer tinha visitas e, como Carlos Flores dos Santos nos "confessou", nos primeiros tempos as visitas duravam quase um dia inteiro. Percebe-se porquê, apesar de ser alguém que na sua infância dizia que nunca haveria de trabalhar nesta área, a verdade é que foi "apanhado" e nota-se o entusiasmo nas muitas histórias que tem para contar. Como se trata de um edifício de trabalho, não falta uma tanoaria própria. Muitos de nós nunca tinhamos estado numa tanoaria. Apesar de não estar lá ninguém a trabalhar por ser fim-de-semana, foi-nos mostrado algum do trabalho que ali se faz e algumas das técnicas utilizadas. O Rui Lourenço Pereira, como se pode ver numa das fotos, até pegou na marreta.
Após a visita, voltámos à sala de provas. Ali a prova foi bastante diferente da prova da manhã. Além de ser na sala de trabalho do enólogo, realizou-se em regime self-service. Um copo para cada um e iamos provando e conversando. Ainda antes de começarmos a provar alguém notou que Álvaro Van Zeller tinha exposto um cartão de sócio do Benfica junto à sua secretária. Logo a discussão começou, com o Ricardo a aproveitar a situação para exibir o cartão dele do Vitória de Guimarães. Certas pessoas tiveram sorte, se a prova tivesse sido depois de um comentário destes sobre benfiquistas, não tinha direito a copo para provar. Água da torneira já era bom.
Numa prova onde imperou a boa disposição, chegando até a passar por uma fase de anedotas picantes, desfilaram os seguintes néctares:
Andresen Colheita 1997
Cor âmbar.
Aroma com frutos secos (passas e também alguma amêndoa) mas ainda alguma fruta fresca presente.
Fresco, com um toque balsâmico. Bom comprimento na boca e final longo.
Nuno: 17 / Ricardo: 16.5
Andresen Colheita 1995
Côr âmbar também, e vou-me abster de falar na cor nos próximos até aos que deixam de ser âmbar. Assim deixo de chatear os leitores com mais uma linha igual.
Aroma mais directo, com algum anis e toque floral.
Alguma doçura, compensada com boa acidez... Confesso que tentei várias vezes mas não percebo o que escrevi a seguir nas minhas notas sobre a boca. Sou um gajo de informática mas continuo a ser um rústico que se ajeita mais a escrever à mão, o pior é quando não percebo o que escrevo! Final longo.
Nuno: 16.5 / Ricardo 16
Andresen Colheita 1992
Vinho numa fase mais contida a nível de aromas. Algum fumado, caramelo e tâmaras.
Acidez viva. Apesar de preencher bem a boca é um vinho de grande elegância.
Também na boca o caramelo aparece, mas daquele caramelo sem doçuras, amargo, como eu gosto. Belo final.
Nuno: 16.5 / Ricardo 16.5
Andresen Colheita 1991
Aroma mais aberto que o 1992.
Caramelo mas tipo aqueles rebuçados penha e um toque balsâmico.
É daqueles vinhos que na boca parece que se vai descascando em várias camadas. Final bastante longo.
Deste primeiro round foi o que mais prazer me deu.
Nuno: 17 / Ricardo 16.5
Intervalo! Depois dos colheitas, um vintage para fazer a separação dos brancos datados que aí vinham.
Andresen Vintage 2007
Este como é um vintage, obviamente não é âmbar. É escuro que nem breu!
Aroma muito frutado, a cereja preta, com toque balsâmico e algum floral.
Na boca é mastigável, parece que estamos a comer polpa daquelas cerejas do Fundão muito pretas e bem maduras, apesar de ter ainda uma grande austeridade.
Não é daqueles vinhos de impacto inicial (o que aliás foi uma característica também dos colheitas aqui provados, mas vai crescendo). Final longo.
Nuno: 17 / Ricardo 18
Andresen White 10 anos
Aroma com bastante mineralidade e alguma flor de laranjeira.
Acidez bem presente. Alguma secura na boca, com toque citrino. Final longo.
Nuno: 16.5 / Ricardo: 16
Andresen White 20 anos
Também bastante mineral, acompanhado de folhas secas e noz.
Mais seco ainda que o 10 anos, acidez igualmente pujante. Pede acompanhamento. Boa profundidade na boca e final bem longo.
Nuno: 17 / Ricardo 17
Mais um intervalo. Outro vintage antes dos colheitas mais antigos.
Andresen Vintage 2008
Mais um completamente opaco.
Aroma menos frutado, com muita esteva e violetas.
Frutos pretos, muito taninoso e seco. Muita austeridade comparando com o 2007. Como depois nos foi explicado pelo enólogo, este tem muito + álcool e também bastante mais secura (trocando por miudos, muito menos doçura). Final longo e seco. Parece que eu estava do lado da minoria, mas gostei mais do 2007.
Nuno: 16.5 / Ricardo: 16
E agora é que foram elas...
Andresen Colheita 1982
Aroma a mostrar muita elegância. Não é daqueles exuberantes mas sim dos que nos chamam a cheirar uma e outra vez para o descobrir. Mel, tâmaras e especiarias, vão aparecendo.
E a partir daqui as bocas foram-se tornando cada vez mais surpreendentes. Pujante, bela acidez e final muito longo.
Nuno: 17.5 / Ricardo: 17
Andresen Colheita 1980
A partir desde os tons começaram a ir mais para os acastanhados.
Aroma com café, caramelo e especiarias.
Untoso, mastigável, com grande frescura e final muito prolongado.
Nuno: 18.5 / Ricardo: 19
Andresen Colheita 1975
Aroma delicado. Laranja cristalizada e frutos secos.
Na boca é o mais elegante de todos. Dizem que 1975 é um mau ano (mas a nível de pessoas a colheita foi excelente ), mas este vinho mostra o contrário. Este é um verdadeiro gentleman. Convenceu-me mesmo, finalmente encontrei um vinho do meu ano que desejo comprar!
Nuno: 18 / Ricardo: 18
Andresen Colheita 1968
Tom mais castanho ainda.
Aroma mais seco, com tabaco/caixa de charuto, o que fez os fãs de charuto presentes começarem uma dissertação sobre charutos.
Também é muito na base da elegância, mas demonstra mais potência e untosidade que o 1975. Grande acidez e final muito longo. Foi o preferido de alguns dos presentes.
Nuno: 19 / Ricardo: 19.25 (sim, este mamífero não se decide se quer dar 19 ou 19.5, por isso publico mesmo assim senão daqui a um mês ainda temos isto por publicar)
Andresen Colheita 1910
O 1968 não foi o meu preferido por causa deste "senhor". Eu percebo o porquê do 1968 ser o preferido de muitos. É um vinho que causa um grande impacto e, como tínhamos provado tantos vinhos, dava nas vistas.
Este é mais um daqueles que podia estar meia hora a descrever aromas e apareciam sempre mais.
Entra de mansinho na boca, como que a dizer para nos irmos preparando para o que ali vinha. Depois cresce, cresce. Já depois de o engolir (sim, este acho que também ninguém teve coragem de cuspir) ele continua, continua, interminável. Estava eu a descrever esta minha sensação e logo o João Barbosa tinha de arranjar uma piada ordinária...
O conteúdo da barrica não dá para mais do que 1000 garrafas, por isso é melhor cheirar e beber com a maior calma do Mundo, o que não era possível ali. Desejei prová-lo a solo. Sem os outros todos antes, pois acho que só assim seria justa a sua avaliação.
Nuno: 19.5 / Ricardo: 19.5
E pronto, foi isto...Roguem-me lá as pragas que quiserem, que eu já nem quero saber.
Quando um gajo tem crises existenciais e nem sabe se há-de continuar a "blogar" ou não, aparece uma coisa destas e já tudo vale a pena.
Um grande agradecimento à Andresen por nos ter propocionado esta prova, ainda por cima a um Sábado quando costumam estar fechados.
E o maior agradecimento de todos vai para o Rui Lourenço Pereira, que apesar das contrariedades que surgiram na primeira tentativa insistiu e conseguiu que tivessemos um dia memorável.