Num belo sábado de manhã (esta é sempre uma boa forma de começar qualquer evento), no restaurante "O Pote Velho" - amigo do vinho - juntaram-se alguns convivas para uma mega-prova de vinhos do Dão. O cenário era simples: mais de trinta (30!) vinhos do Dão, com a mão e pela mão do enólogo António Narciso, de seis diferentes casas, de forma a perceber o perfil Dão e, por outro lado, as diferenças entre vinhos oriundos de vinhas a poucas dezenas/centenas de metros umas das outras. Ao longo da batalha, fomos picando sólidos de boa qualidade para manter os estômagos equilibrados (cumprimentos para o Pote Velho, onde fomos muito bem recebidos e tratados).
Começamos pelos Brancos, alinhados pela casta Encruzado do Dão: Quinta da Fata 2011 (mineral, acidez que garante a evolução durante anos, alguns toques vegetais); Barão de Nelas Encruzado 2011 (cor muito clara, cítrico e tropical, fresco com toques fumados - muito fácil de beber); Casa Aranda 2010 (nariz vivo, perfil seco, bastante mineral e fresco, ainda muito novo - comprem e guardem, vale bem a pena); Quinta das Marias 2010 (nariz frutado, elegante, com menos corpo mas ainda novo, com persistência); Quinta Mendes Pereira 2010 (nariz mais complexo, mais intenso, tostado, floral e chá, frutas secas) e Quinta das Marias Barrica 2010 (nariz muito exuberante, fumado no nariz, tosta, enorme acidez e toques citrinos). Os meus preferidos foram o Quinta Mendes Pereira e o Quinta das Marias Barrica, ainda que a minha sugestão seja: comprem todos, provem e escolham - vale mesmo a pena! Para demonstrar que estes Brancos evoluem e melhoram com o tempo, tivemos o privilégio de provar um Casa Aranda 2006 com um nariz menos exuberante (pois claro!), com aromas florais (tílias), enorme frescura e longevidade - um sacrilégio, porque já não se encontra à venda. A prova que os Brancos do Dão melhoram - muito - com a idade.
Passamos depois para os Rosés, com a Fonte de Gonçalvinho, Quinta das Marias e Quinta Mendes Pereira, todos de 2010. Destaco o Rosé da Quinta Mendes Pereira, mais polido e uma bela companhia para as (ainda) quentes tardes de verão, mas considero que o Fonte de Gonçalvinho é o Rosé de esplanada!
Já bem sustentados por sólidos (eu já disse que o Pote Velho é um restaurante amigo da qualidade?), começamos a maior guerra: a prova dos tintos, passando novamente por todos os produtores. Para perceberem a dimensão da coisa, tentem ler todos os vinhos provados:
De todos os vinhos provados (acabamos perto das 8 da noite, já a ver mau futebol na TV), destaco claramente os seguintes: Casa Aranda Reserva 2007 (cor muito concentrada, fruta preta, especiarias, mentolado; grande estrutura com muito boa persistência); Quinta das Marias Cuvvee TT 2010 (excelente nariz floral, fruta vermelha e especiarias, bem encorpado e com taninos bem presentes, notas de fruta e tosta bem integradas; muito bom final e persistência); Quinta das Marias TN Reserva 2010 (nariz intenso floral, fruta madura e chocolate; encorpado com taninos bem presentes; paladar frutado e especiado com toques florais, persistência muito boa); Barão de Nelas Reserva 2004 (nariz intenso compotado, fruta vermelha madura, flores secas, muito boa frescura); Barão de Nelas TN (cor concentrada; nariz floral e compotado; boca compotada e com toques vegetais com final prolongado e persistente); Quinta Mendes Pereira TN 2005 (nariz elegante com notas florais, fruta preta, especiarias e aromas terciários - couro?, com um volume, complexidade e persistência muito acima da média); Quinta Mendes Pereira Escolha 2006 (nariz floral, fruta madura e especiarias subtis; acidez interessante com boca de fruta madura e vegetal com boa persistência); Quinta da Fata Touriga Nacional (cor muito carregada, enorme nariz com notas florais, especiarias, fruta vermelha madura e aromas do bosque; boca encorpada, frutada com toques de resina e especiarias; taninos presentes mas integrados, com muito boa persistência e profundidade); Fonte Gonçalvinho Inconnu Reserva 2010 (nariz floral, muito elegante e fresco, exuberante com muito boa persistência e profundidade - eu acho que há aqui um toque de Jaen...).
Tenho a certeza que não me lembrei de todos os pormenores, mas se há algo a preservar é o facto de o Dão ter excelentes vinhos que só melhoram com a idade. Lembre-se: se vir na prateleira vinhos do Dão com 5 ou 7 anos, COMPRE - estão na altura certa para se começar a beber (ai se eu apanho um Casa Aranda 2006....). Por outro lado, é incontornável a qualidade do trabalho do António Narciso - parabéns, e que continue por muitos e longos anos.