A Herdade do Cebolal é um projecto familiar que se localiza no litoral alentejano, concelho de Santiago do Cacém, a pouco mais de 10Kms de Porto Covo. Por estranho que possa parecer, pertence à região demarcada da... Península de Setúbal. Faz sentido... :)
Na apresentação que fizeram dos seus vinhos, no Clube dos Jornalistas em Lisboa, esse cariz familiar veio ao de cima. Luís Mota Capitão, a face (e bigode) mais visível deste projecto, apresentou os vinhos em conjunto com o enólogo António José Saramago e os seus pais. Quebrando a tradição familiar de ser médico ou veterinário, Luís desde muito novo que quis dedicar-se ao campo. Após receber, em conjunto com a irmã, esta herdade decidiu reconverter vinhas e reconstruir os lagares, para levar a sério o projecto vitivinícola. Essa paixão percebeu-se em todas as palavras durante a noite. A vontade de querer fazer um vinho à sua imagem, em vez de ser só mais um, também se percebeu nos copos.
Começámos pelos Herdade do Cebolal branco 2011 e 2010, brancos frescos, minerais e com ligeira salinidade. É a gama de "entrada" do produtor mas já são brancos que dão indicação de melhorar com os anos.
O Herdade do Cebolal Rosé 2012 também não é um rosé normal. No nariz parecia que podia ser doce mas, ao chegar à boca, a conversa foi outra. Muito gastronómico. Será curioso de ver como estará daqui a uns anos. O produtor fala em 5.
A seguir vieram alguns dos meus preferidos da noite, os Caios brancos 2010, 2009 e 2008. Brancos sérios, feitos para evoluir. Apenas o 2009 pareceu ter uma evolução mais rápida, segundo o enólogo devido às condições climatéricas desse ano terem estado longe de perfeitas, mas o 2008 meus senhores... venham muitos destes! O 2010 parece querer seguir o mesmo caminho, mas temos que esperar por ele. Bebê-lo nesta fase é pedofilia vínica.
Já agora, uma curiosidade. Se repararem nas fotos, o rótulo da garrafa do 2010 não tem a imagem de Caios, um antepassado da família ao qual o vinho é dedicado, ao contrário das anteriores. Apesar da diferença trata-se do mesmo vinho, mudando apenas a colheita. Pelos vistos teve que ser, pois em alguns países há um "ai meu Deus, uma foto de um morto" e não aceitam muito bem a ideia.
O primeiro tinto, Vale das Éguas 2010 só não foi uma grande surpresa porque o tinha provado há umas semanas. De um vinho de 3 euros e tal estaríamos à espera de um vinho frutado, suave, todo afinadinho, etc... Pois é o oposto disso tudo. Um vinho completamente "desalinhado", a cheirar a lagar, com taninos vivos. Fez-me lembrar alguns vinhos do Dão mais rústicos. Eu achei muita piada, mas claramente não é um vinho para meninos.
Vieram então os Herdade do Cebolal tintos, 2011, 2010 e 2008. São vinhos com um carácter vegetal e algum químico, com a madeira a não interferir muito. O 2008, como seria de esperar era o que estava mais pronto a beber e o 2011 ainda a precisar que se esqueçam dele.
Por fim (em temos oficiais) o Caios tinto 2008 que, apesar dos quase 5 anos ainda implora por uns bons anos de garrafa.
Com o "em termos oficiais" queria dizer que ainda provamos outros 2 que ainda estão a muito tempo de virem para o mercado, o que será o Caios 2011 e a amostra de barrica de um Alicante Bouschet de 2012. E quer-me parecer que vão sair dali umas coisas jeitosas.
Resumidamente, para quem saltou a parte sobre os vinhos sem ler (confesso que às vezes faço isso quando leio em blogs demasiadas notas de prova), são vinhos com identidade, pensados para durar. É um produtor que vale a pena conhecer. A não ser que só se goste de vinhos redondinhos cheios de fruta e para beber logo quando saem. Se é assim esta é outra praia, mandem-nos para mim que eu trato bem deles.