Prova Heritage Wines
A convite da Heritage Wines, dei comigo a passear no belíssimo The Yeatman com o pretexto de provar as novidades da Quinta do Crasto, Herdade do Mouchão e RODA (da Rioja). A Heritage Wines é uma distribuidora de vinho, representando grandes marcas de renome focada na qualidade das representações. Pertença da Fladgate Partnership, tem uma relação privilegiada com várias marcas do grupo e, precisamente por essa razão, foi escolhido o Yeatman para a realização das provas.
Não tive muito tempo para conhecer em pormenor o Hotel, mas as pequenas partes que fiquei a conhecer - até a piscina pejada de gaivotas - são únicas (à falta de mais adjectivos). Esta prova foi seguida de perto pelos responsáveis das várias casas e do grupo: o Tomás Roquette e o Manuel Lobo da Quinta do Crasto; o John Fordyce do Mouchão; o David Guimaraens (dispensa apresentações) e (dada a impossibilidade da representante) o Luís Sequeira como representante adoptado da RODA, a marca espanhola.
A prova aconteceu numa localização extraordinária, alguns níveis acima da piscina e com uma vista (apresentada nas fotografias que eu, sem nenhuma vocação, consegui tirar) espantosa para o Porto. Parece-me importante realçar o ambiente alegre, ocasionalmente picado com algum humor (o John referia-se ao Vinho do Porto como uma ginjinha, e foram trocadas piadas sobre o primeiro casal homossexual que mora perto do Mouchão e o facto de existir, no Douro, uma Quinta do Panascal....) que prosseguiu durante a prova e o almoço, aliado à colaboração patente entre várias Casas.
A primeira fase da prova apresentou o chamado desafio branco da Quinta do Crasto, o novíssimo Branco 2010 que tem uma excelente frescura (ao contrário do que seria de esperar, pela localização das vinhas), com citrinos e fruta tropical em destaque e uma complexidade interessante. Seguiu-se o Crasto 2009 Tinto, que para mim representa o típico Douro e tem a particularidade de não passar por madeira, para a mesma gama de preço que o Branco. Os dois momentos seguintes subiram o nível, uma vez que foram provados o excelente Crasto Superior 2009 originário da Quinta de Cabreira (porque origina do Douro Superior) com uma surpreendente frescura e complexidade, com uma garrafa Borgonha ao contrário de toda a gama Bordalesa e a fechar com chave de ouro o Reserva Vinhas Velhas 2008 (que está já disponível em meia garrafa, principalmente para o mercado Americano).
Estava chegada a hora de passar para o Mouchão, que começou com o D. Rafael 2009 Branco (Antão Vaz menos tropical, frescura e mineral do Arinto), D. Rafael Tinto 2009 (sou cliente habitual das especiarias e fruta preta com um toque de menta deste clássico Alentejo), Ponte das Canas 2008 (tostados, frutos negros e especiarias com uma profundidade interessante) e Mouchão 2006 (junta aos frutos negros e especiarias a compota).
Uma vez que a representante da RODA tinha ficado retida em Tóquio, a apresentação ficou a cargo do Luís Sequeira, iniciando-se pela excepção: o Corimbo 2008 (100% Tempranillo) com uma boa profundidade casada com frutos vermelhos e especiarias; o RODA 2006 (97% Tempranillo e 3% Graciano); o RODA 1 Reserva 2004 que é absolutamente elegante, com aromas de amoras e cassis, especiarias e um final de chocolate fenomenal e, por fim, o mítico Cirsion 2007 que é só resultado do melhor das melhores 17 barricas dos 28 vinhedos da RODA (aromas a lavanda, cerejas e cassis, muito denso, complexo e super-persistente).
Como ainda só tínhamos provado vinhos "correntes", o David Guimaraens presenteou-nos com uma prova de três vintage (Panascal, Vargellas e Fonseca) 2001 - exactamente com 10 anos. Não posso deixar de realçar o humor (Douro Boys ainda não são Douro Men....) com que conduziu esta prova, bem como o reconhecimento do excelente trabalho do António Magalhães com quem, em equipa, cria estes Vinhos do Porto. Sendo o último da manhã, e com o almoço à distância de poucos minutos, começamos pelo Quinta do Panascal 2001, que alia os aromas a ameixa, compotas, figo com uma frescura irrepreensível e enorme suavidade; seguiu-se o Quinta de Vargellas Vintage 2001 (é um dos meus preferidos de sempre) com uma impressionante expressão de violetas, fruta e especiarias, acabando com um toque de tabaco e uma enorme profundidade e, por fim, o Guimaraens Vintage 2001, um Fonseca em estilo mais complexo com aromas de figos, cereja madura, ameixas, compotas e chocolate aliados a uma frescura e persistência enormes, equilibrado e com taninos aveludados (diz quem conhece que é um dos melhores Fonseca de sempre).
Como as provas da manhã foram excelentes, foi-nos oferecido um almoço confeccionado por um tal de Chef Ricardo Costa, um desconhecido que aparentemente tem condições péssimas de trabalho na cozinha (perceberam a ironia?). Por isso mesmo, fiz o enorme sacrifício de provar o melhor Champagne que alguma vez provei - Bollinger Special Cuvée NV - ainda antes de começar o almoço, na varanda exterior do Yeatman. Já na sala, começamos por um creme aveludado de couve flor com açafrão, raviollis de crustáceos, bacalhau negro e azeite virgem acompanhados pelo Crasto Branco 2010 e pelo D. Rafael Branco 2009. Como fiquei sentado ao lado do John Fordyce, é óbvio que jurei a pés juntos que o D. Rafael era claramente superior - mas ele confessou-me durante o almoço que costuma beber em casa, para além dos seus vinhos, vinhos da Quinta do Crasto e vinhos da Filipa Pato.
Já lançado na Vitela Maronesa, jarret glaceado com cebolinhas e batata ratte, legumes estufados e molho de gengibre vi chegar o Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa 2005, seguido do Mouchão Colheita Antiga 2000. Ficou provada a capacidade de envelhecimento do Mouchão, que com 10 anos está em plena forma; mas é inquestionável a excelência e classe do Vinha Maria Teresa - não que a Quinta do Crasto necessite que eu o diga.
Durante a sobremesa (morangos salteados com hortelã, merengue ligeiro de lima e cardamomo e molho de côco com caril acompanhados com o Taylor's Tawny 20 anos) já estava a trocar histórias sobre o Ayrton Senna e o Valentino Rossi com o Duarte Fernandes (da Heritage Wines), acabando abruptamente a conversa quando chegou o Fonseca Vintage 1985 para acompanhar uma selecção de queijos com compotas caseiras (vá-se lá saber porquê...).
No final ainda troquei algumas palavras com o Chef Ricardo Costa, e voltei a fazer o percurso contrário, para sair do Yeatman. Passei ainda pela loja de vinhos onde prometi voltar rapidamente, pelas surpresas que encontrei e até por alguns preços (!), e registei a Classe que é patente em todos os pormenores deste belíssimo local. Note to self: QUERO voltar rapidamente...