Portuguese Wine Bloggers: Prova Sogevinus

Prova SogevinusEste texto está difícil de começar!
Já perdi a conta das vezes que escrevi e apaguei o início. Em parte porque ando destreinado de escrever, mas principalmente porque é difícil descrever o belo dia que passámos em Vila Nova de Gaia na companhia de outros wine bloggers. Quer dizer, não é que seja difícil descrever. O "problema" é que foi tão bom que qualquer coisa que eu escreva pode soar a "raio do gajo aqui a babar-se com vinhos que só se provam uma vez na vida, a irritar as pessoas que gostavam de lá ter estado e não estiveram e, por isso, se devia ter engasgado".

Agora que penso bem no assunto, acho que foi por isso que o Ricardo (que também foi) me pediu para ser eu a escrever este.
Passando então ao dia 29 de Janeiro, lá fui eu a caminho de Vila Nova de Gaia onde me encontrei com o Ricardo e seguimos só no carro dele até perto das caves. Entretanto a comitiva vinda de Lisboa de comboio chegou e entrámos nas Caves da Cálem, onde se realizou a primeira prova do dia.
Antes da prova, foram feitas as apresentações à equipa da Sogevinus que teve a amabilidade de nos receber e foi-nos feita uma visita guiada pelas caves, onde se podem ver painéis com a história da Cálem, barricas, tonéis e balseiros. Chegámos mesmo a entrar num balseiro - que é uma sala multimédia onde é apresentado um filme - terminando a visita na sala de provas.
Não foi no entanto aí que provámos os vinhos, mas sim numa sala preparada para o efeito. Quando chegámos a essa sala, fomos ficando encandeados pelo brilho dos olhos do pessoal depois de ver as garrafas. Vinha ali realmente algo de grande!
A prova foi conduzida pelo enólogo Pedro Sá, que fez uma apresentação fantástica dos vinhos. E não digo isto pela qualidade dos vinhos (que obviamente a tornou fácil), mas porque foi o oposto da imagem cinzenta que ainda se vê muitas vezes associada ao vinho do Porto. Foi uma apresentação descontraída, bem disposta, com muitas gargalhadas e 2 bloggers a quase ficarem sem direito a almoço.
O desfilar de pomadas foi o seguinte:

Kopke White 40 Years Old
Cor dourada.
Nariz intenso com figos secos, amendoas e um toque de laranja cristalizada.
Ligeira doçura na boca, a fazer lembrar mel, bem compensada com uma acidez vibrante. Elegante com final longo.
Nuno: 17.5 / Ricardo: 17

Cálem Colheita 1961
O primeiro a apresentar ligeiros toques esverdeados na cor.
Aroma a mostrar alguma austeridade.
Mel, especiarias e algum tabaco.Mais seco e corpulento. Impressiona na jovialidade ao entrar na boca. Um dos preferidos do Ricardo.
Nuno: 18 / Ricardo: 19

Burmester Colheita 1960
Cor dourada.
Demora a mostrar-se, como que a dizer que quer que fiquem mais tempo a conversar com ele. Nozes, tâmaras e uma bela mineralidade vão aparecendo.
Mais elegante que o anterior, também por isso se sentiu ligeiramente mais o álcool mas bem equilibrado com a acidez. Final de grande "finura".
Nuno: 18 / Ricardo: 18

Barros Colheita 1950
Âmbar com reflexos esverdeados mais evidentes.
Aromas a frutos secos torrados, mel. caramelo. Alguma sensação de austeridade e ligeiro floral (que alguém disse que faziam lembrar uma zona específica de Óbidos e ia ficando sem almoçar).
Na boca foi talvez o que mais impacto inicial me causou, parece que nos dá uma chapada para acordar para ficarmos a olhar para ele. Gordo, com alguma dureza e secura. É vinho à macho.
Nuno: 18.5 / Ricardo: 19 

Burmester Colheita 1940
Âmbar.
Grande mineralidade no aroma. Torrefacção, bastante iôdo e vinagrinho (a partir desde muitos o mostravam).
Muito elegante, acidez viva, sabor a fazer lembrar mon cherry. Se o anterior era um machão, este era um gentleman.
Nuno: 19 / Ricardo: 19

Kopke Colheita 1937
Âmbar/acastanhado.
Cá está novamente o vinagrinho, muito iôdo, ficos secos, mel e casca de laranja.
Muito encorpado, com sensação melada em grande equilíbrio com a excelente acidez e o álcool. Grande final.
Nuno: 18.5 / Ricardo: 18.5

Barros Colheita White 1935
A nível de cor, venha quem vier. Ninguém diria que isto era um branco se não lhe visse o rótulo.
Aroma muito intenso mas com delicadeza. Aniz, frutos secos e melaço.
Mais um vinho de elegância fantástica, mas que nos enche a boca toda. Um luta entre o doce e o amargo. Acidez fantástica. E sei lá o que mais dizer... Tão bom!
Nuno: 19 / Ricardo: 19

Burmester Colheita 1900
Quero lá saber da cor!
1900!! O que dizer do aroma de um vinho destes? Melaço, cêra, noz, caramelo... Acho que se passássemos uma folha por todos os presentes para escrever os aromas que sentiam, uma folha A3 podia não chegar.
Na boca é estranho. Não num sentido negativo, pelo contrário. O próprio enólogo o descreveu como o vinho mais estranho que estávamos ali a provar. É verdade. Estranha-se e depois entranha-se. No fim engole-se, porque este é crime deitar para a cuspideira.
Nuno: 19.5 / Ricardo: 19.5

Depois desta prova foram-nos mostrar o quadro que deu origem ao rótulo do Porto Cálem Velhotes, mas o pessoal só falava era no "velhote" de 111 anos!
De seguida fomos para o almoço, num outro edifício junto à Ponte D.Luís. Um local friiiio onde, para além dos balseiros, repousam garrafas com vários Vinhos do Porto da casa. Subimos para a parte de cima, de onde se tinha uma magnífica vista sobre o Douro e fomos trincando os aperitivos antes do almoço.
É um bocado ingrato falar do almoço depois da prova da manhã, especialmente porque o resto das garrafas foram lá ter à mesa para acompanhar a sobremesa ofuscando outra vez tudo o resto. O Ricardo notou apenas que havia uma espécie de campo magnético na ponta da mesa onde ficámos... é que no final do almoço as garrafas estavam quase todas do nosso lado.

Mais uma vez um grande agradecimento à Sogevinus por nos dar o prazer de uma prova destas.

A seguir lá fomos nós para a Andresen.