Herdade das Servas: Vertical Touriga Nacional

Herdade das Servas: Vertical Touriga NacionalNum belo dia de Janeiro, acordo pelas 6h30 da madrugada (sim, ainda sem se ver o sol) e despacho-me a ir para a Praça Velasquez, onde um mini-van me esperava. Já lá estavam mais alguns companheiros de viagem, com o mesmo sono (ou mais, se isso fosse possível). Partimos pelas 7h com rumo a Estremoz, chegando à Herdade das Servas pelas 10h30, convidados a participar numa prova vertical dos Touriga Nacional desta casa.
O Nuno e a Ema já tinham visitado esta Quinta, pelo que desta vez não incluímos fotografias do que já existe no outro artigo de Enoturismo: Enoturismo: Herdade das Servas. Ainda que o pessoal de Lisboa tenha saído cedo e estivesse mais perto, ainda demoraram uma boa meia hora a chegar; entretanto chegaram o Nuno e a Ema para completar a equipa Magna Casta.
Não demorou muito tempo até termos copos do Escolha 2009 Branco casado com umas tapas alentejanas, para massajar o estômago da viagem. Gostei tanto da frescura e dos frutos tropicais casados com mel que não saí da Herdade das Servas sem trazer duas garrafas para casa.
Se não fosse atractivo suficiente a prova destes Touriga Nacional alentejanos, a Herdade das Servas estava preparada: brindou-nos com um almoço criado em especial para a ocasião (em harmonia com os vinhos) pelo Chef. Augusto Gemelli. Infelizmente não temos as fotos dos pratos todos pois o Nuno, que já não comia há 2 dias à espera deste almoço, normalmente só se lembrava de os fotografar quando acabava de rapar o prato.
Estava prevista uma visita à vinha da Judia, mas acabamos por fazer uma visita à adega e à cave, onde nos foi descrito em pormenor todo o pormenor desde a vindima, a vinificação e o estágio pelo Carlos Mira e pelos enólogos Tiago Garcia e Luís Mira. No meio da visita pudemos ainda perceber que existe um conjunto de "experiências" que podem vir a dar frutos com potencial, no futuro. Claramente, é valorizada a investigação de caminhos alternativos com objectivos benéficos para o produto final.
A prova vertical começou com o Herdade das Servas Touriga Nacional 2003, conjugado com um "carpaccio" de espadarte marinado sobre creme de grão-de-bico ao cominho, tomatinhos no forno e azeite de rúcola. Esta foi claramente uma aposta do Chef em mostrar - surpreendendo toda a gente - que é possível conjugar um Touriga Nacional Alentejano com peixe, desde que se saiba o que se está a fazer. E se há quem saiba...
Este 2003 é violeta escuro, e surpreende com os aromas florais e frutados, com uma evolução para o cacau e fumo (foi o que mais apreciei, provavelmente pelas razões erradas). Acredito que terá mais alguns anos de evolução em garrafa. De seguida, o Chef "casou" um polvo caramelizado e fumado em cama de "pappa" de tomate, hortelã e perfume com o Touriga Nacional 2004. Na mesa onde estava, preferiram este 2004 mais corpulento, fresco e mais floral que tendeu para as especiarias com o tempo.
Como o almoço ainda só ia a meio, passamos para o Touriga Nacional 2005 harmonizado com um ravioli de massa de espinafres recheados com farinheira de presunto e azeitona, espelho de "pesto" de manjericão e queijo Pecorino jovem, talvez o que menos se destacou - fresco, um pouco mentolado, evoluindo para o cacau, especiarias e cacau característico dos seus irmãos mais velhos. Para finalizar, e já com pouco espaço disponível, passamos ao lombinho de porco corado na salva com "risotto" de barriga fumada, batata nova e alecrim casado com o Touriga Nacional 2006. Não posso deixar de associar este 2006 ao perfil do 2005, mas bastante mais consistente - mantendo as notas de mentol, que lhe conferem frescura, e com algumas notas de frutos pretos maduros, e com um sabor intenso.
Por fim, já com todas as notas da vertical Touriga Nacional, fomos surpreendidos novamente: um bolinho de maçã e caril com molho de caramelo e chocolate branco, com a presença-surpresa do Licoroso da Herdade das Servas, ainda que a harmonização não me tenha agradado.
Depois de um almoço deste calibre, a viagem para cima foi bastante sossegada (para quem ficou acordado).