Sábado, 7 da madrugada, e eu a sair da cama. Mais cedo do que nos dias de trabalho! O drama! O horror! Como foi possível tal coisa? A culpa foi do Inspira Portugal - Touriga Nacional powered by TWA, onde nos esperavam, às 9 da manhã, 29 vinhos de Touriga Nacional produzidos em Portugal.
Em primeiro lugar, convém explicar o que é isto do TWA (The Wizard Apprentice). Além do blog do enólogo Hugo Mendes, de onde surgiu o nome, é também um grupo do Facebook que surgiu como uma espécie de extensão do blog. Essa comunidade foi crescendo, ganhando vida própria, tornando-se num dos espaços de discussão mais animados sobre vinhos na Internet, numa altura em que os fóruns que ainda existem parecem condenados de vez à morte e à enochatice.
De lá têm saído muitas iniciativas, muitas delas sem sequer ter a intervenção do criador do grupo, até que ele lá se decidiu a fazer qualquer coisita. :)
Foi assim que surgiu a ideia do Inspira Portugal, cujo primeiro round foi dedicado à casta Touriga Nacional, que se realizou na Quinta das Carrafouchas. Uma quinta mesmo aqui às portas de Lisboa (Loures), que tem uma sala para eventos com muito boas condições, onde não faltou o wi-fi e uns belíssimos copos Riedel com o logotipo da casa.
Como se pode verificar pelas fotos, mal lá cheguei comecei a trabalhar. Havia 58 garrafas para abrir e todas as mãos eram poucas. A manhã ia ser longa.
Iniciou-se então a acção formativa, com um vídeo de Nuno Magalhães numa vinha de Touriga Nacional. Para quem não conhece, este senhor é só um dos grandes mestres da viticultura em Portugal e autor da bíblia "Tratado de Viticultura". Partimos então para a primeira bateria de Tourigas que começou em Trás-os-Montes e terminou no Dão... ou foi nas Beiras? Não sei bem, acordei às 7 num Sábado, não me façam perguntas difíceis.
Foi então altura de um coffee break que, na verdade, foi um break sem coffee mas com uns produtos da Venda da Vila de comer e chorar por mais. Felizmente o representante da marca estava lá a cortar os paios conforme se pedia. Se estivesse já tudo cortado, acho que os valores do colesterol teriam disparado uns 40 ou 50 pontos. Assim um gajo tinha vergonha de se armar em lateiro e deu para ir controlando.
Também havia codorniz em escabeche, que acabei por não provar. Mas devia estar bom, pois houve quem comesse o escabeche até sem codorniz.
Após algum esforço, lá conseguimos voltar aos nossos lugares, para assistir a um novo vídeo, desta vez sobre a Touriga Nacional na adega, da autoria de Paulo Coutinho, que elevou a fasquia bem alto para os próximos vídeos que venham a ser feitos para as futuras edições do Inspira Portugal.
Viria então o segundo round de vinhos, que nos levou pelos caminhos de Portugal até ao Algarve. Nessa altura já a nossa toalha estava roxa, pois o escanção de serviço sempre que chegava ao nosso lado começava a desperdiçar vinho. Para a próxima exigimos um escanção melhorzinho.
Conclusões? Cada um tira a sua, pois nisto do vinho não há verdades absolutas. No meu caso não me fez mudar muito a opinião que já tinha sobre esta casta. É sem dúvida uma grande casta, mas prefiro-a em lote do que a solo. Acho que se expressa melhor no Interior Norte, em especial no Dão, mas admito que os do Douro serão mais fáceis de agradar. Pode evoluir de uma forma bastante interessante, como se pôde verificar pelo vinho mais antigo em prova, o Quinta Mendes Pereira 2005. Consegue, na mesma região, dar vinhos tão diferentes que quase nem têm pontos em comum.
Uma palavra especial para Trás-os-Montes, uma região que normalmente é esquecida e de onde vieram alguns vinhos com bastante potencial. Infelizmente a maior parte eram amostras de casco, engarrafadas propositadamente para a prova, mas fiquei com vontade de os provar daqui a uns anos, quando se fizerem "homens".
Finalizada a prova, houve lugar ao sorteio de um saca-rolhas, que teve um final curioso. Depois de a Ema ter convencido o Hugo Mendes que não iamos participar, confirmei a minha inscrição na própria semana a dizer que só ia por causa do sorteio do saca-rolhas. Adivinhem quem ganhou... :)
Não sei se foi só coincidência, ou se foi sabotado por ele para nos convencer a ir aos próximos. Venha de lá a Baga, o Castelão ou o Encruzado!
Para muitos de nós a "festa" ainda continuou no Solar dos Pintor, um restaurante que faz sentir qualquer apreciador de vinho (e não só) em casa e que merece que seja escrito um artigo só para ele.