Para quem acompanha o trabalho dos chefs de cozinha, não será novidade que Leonel Pereira deixou as funções de Chef Executivo do Sheraton Lisboa - onde o seu trabalho no restaurante Panorama foi largamente aplaudido - para voltar ao seu Algarve natal para tomar as rédeas do São Gabriel, na Quinta do Lago (Almancil).
Sou sincero, não conhecia a cozinha do Chef Leonel Pereira. Nunca fui ao Panorama, nem nunca provei nada nos
show cookings que ele tem feito em eventos, nomeadamente no
Peixe em Lisboa. Eventualmente cruzei-me com a cozinha dele nas Pousadas de Portugal, pois comemos em algumas delas na altura em que ele era o responsável. Mas na altura nem eu nem a
Ema sabíamos sequer quem ele era.
Só conhecia as maravilhas que se diziam do trabalho dele, nomeadamente os nossos amigos Ana e Rui (
Reserva Recomendada) que referem sempre que a melhor refeição que tiveram foi confeccionada por ele. Foi por isso que assim que recebi um mail informativo sobre este jantar de despedida no
Eleven, o encaminhei para eles e para o Jorge Nunes (
Jojojoli), também apreciador de boa comida e bebida.
Em resposta, fomos informados que já estava feita uma reserva para 6 pessoas. Já não havia volta a dar. Mas no fim acabámos por ser só 4, por causa de um
desistente que ficou doente em casa a dizer mal das fotos dos pratos que meti no Instagram.
Este jantar, além de ser feito a “4 mãos” por Leonel Pereira e Joachim Koerper (o chef do Eleven), era ainda regado com vinhos de Paulo Laureano, Lavradores de Feitoria e Niepoort.
O jantar começou com um amouse bouche (já disse que acho este nome do mais roto que há?) em que apreciei especialmente o carpaccio de lagostim (fez-me fazer as pazes com este animal que até há bem pouco tempo não tocava) e um folhado de morcela. A acompanhar, um espumante do Paulo Laureano que me esqueci de fotografar e apontar o ano, feito em Bucelas, a ser extremamente competente.
A seguir veio o prato que achava que não ia comer, mas que se veio a revelar como uma das surpresas da noite. Um falso gaspacho com tomate em várias texturas e cavala. Também não sou apreciador de gaspacho nem de cavala. Sim, sou esquisito, eu sei.
No entanto, deliciei-me com este prato. A cavala estava no ponto e com aquele sabor intenso que me costuma chatear bem domesticado. O falso gaspacho, com uma textura gelatinosa duvidosa, a ter uma explosão de sabor com que não estava a contar. Belo! Para acompanhar, veio um Lavradores de Feitoria Sauvignon Blanc 2011, que me pareceu demasiado tropical em relação ao que me lembro de outras colheitas.
O prato para o qual tinha as mais altas expectativas, peixe-galo salteado com xerém de berbigão e poejo e molho de coentros, acabou por ficar àquem do que esperava. O peixe passou o ponto e o xerém era um pouco seco. Pelo que percebemos variou de prato para prato. Uma pena, porque o sabor até era interessante e, no copo, um Meruge Branco 2010 tinha todas as condições para fazer um bom casamento.
A seguir veio o que, para mim, foi o prato da noite. Duo de porco alentejano com puré de aipo fumado e molho de vinho tinto. Nada a apontar, carne de porco de Joaquim Arnaud magnífica, a desfazer-se na boca. Com aquela matéria-prima era difícil não fazer bem. Para acompanhar, um Quinta da Costa das Aguaneiras 2008, com bom corpo e acidez suficiente para fazer de par a tão bela companhia.
Antes da sobremesa, um aperitivo de sobremesa para adoçar a boca para o que aí vinha. Um de banana e outro com mousse de maracujá e chocolate.
A sobremesa propriamente dita, era um pudim abade de priscos, talvez o meu doce preferido, ao qual não consigo resistir sempre que vejo numa ementa. Este fazia-se acompanhar no prato de sorbet de citrinos do Algarve e coulis de frutos vermelhos. Tendo eu vivido e estudado no Minho e comido dezenas de pudins abades de priscos, devo dizer que este não era daqueles mesmo à macho que se fazem lá em cima. É uma versão mais metrossexual, apesar de bastante saborosa. O toque ácido do sorbet e dos frutos vermelhos fazia muito bem o contraste com o doce do ovo e sempre ajudava o colesterol a deslizar pelas veias.
Para fechar os líquidos com chave de ouro, um belíssimo Vinho do Porto Tawny 30 anos da Niepoort.
Foi um regresso a um restaurante com uma das vistas mais deslumbrantes de Lisboa, mas que nem sempre as coisas nos correram assim tão bem.
Uma coisa que me fez confusão foi num jantar de “até já” de um dos chefs mais aclamados da cidade, com um preço bem simpático tendo em conta o local e os vinhos incluídos, nem meia casa estivesse.
E mesmo dos que lá estavam, metade eram convidados. Não sei onde é que vai parar a restauração em Portugal...
Quanto ao Chef Leonel Pereira, até já!
Já que nunca o visitei no Panorama, talvez vá um dia ao São Gabriel, se a troika deixar...