Usando palavras do site dos próprios, o projecto "nasce pela necessidade imperiosa de criar agrupamentos de empresas do sector vitivinícola que assegurem de forma mais eficaz a promoção conjunta dos seus produtos".
Juntaram-se em vez de choramingarem das entidades oficiais de promoção ou dos vizinhos, acrescentaria eu.
Este ano tive o prazer se ser uma das almas sortudas que marcaram presença na apresentação anual dos seus vinhos, no Ritz.
O evento consistiu em 3 "actos": A prova livre das novidades, uma masterclass e um jantar de harmonização.
Na prova livre comecei por beber... água. Isto porque o
Pingus achou que o melhor era sairmos do Metro em São Sebastião e não no Marquês. Felizmente já não estavam perto de 40 graus naquele dia, mas ainda assim passava dos 30.
Recomposto do calor, passei aos vinhos.
Na Quinta do Ameal, os 2012 mostraram grande potencial de evolução. O Escolha 2007 apaixonante e o Loureiro 2004 (sim, 2004!) a mostrar que até a entrada de gama pode durar 10 anos sem espinhas. Loureiro em grande!
A Quinta dos Roques, com brancos e tintos com alma do Dão, teve uma boa estreia da gama dos biológicos Maias e do rosé. Quanto aos restantes brancos, que me perdoem os outros mas fiquei com um fraquinho pelo Quinta dos Roques Encruzado 2012 e parece que
não fui o único. Nos tintos temos aqui bons exemplares de um dos responsáveis por resistir à "touriga nacionalização" e não se ter deixado morrer a casta Jaen no Dão. E o Garrafeira 2008? Que só vai para o mercado quando o produtor achar que está "pronto"... Ui ui, sem palavras. Espero poder "conversar" com ele daqui a 10 anos.
Luis Pato também dispensa apresentações, nos espumantes, nos brancos com carácter e longe das frutinhas que (segundo dizem) o "mercado" pede, e nos tintos que aliam nervo com elegância. Para mim, que tenho uma costela bairradina, é sempre um prazer beber tintos bem feitos com Baga.
Quem me conhece bem sabe que o Abandonado é um dos meus vinhos tintos portugueses preferidos e que, sempre que sai um no mercado, a
Ema me oferece uma caixa como prenda de aniversário, mas é injusto que fale apenas deste vinho quando se fala em Alves de Sousa. É um produtor com uma grande consistência e identidade em toda a gama. Aqui o produtor tinha a mesa mais focada nos tintos, com as garrafas magnum do Memórias (vinho que evoca o percurso do produtor) também em grande destaque.
A Casa de Cello apresentou os seus Verdes e "Dãos" feitos para durar. Sim, até os Vinhos Verdes. Actualmente tenho bebido o
SanJoanne 2007 e o Escolha 2000 com grande prazer, e estes que ali estavam mostraram que se pode contar com eles também daqui a muitos anos. Para fazer o pleno faltou-me provar os tintos, da Quinta da Vegia, mas pelos vistos passei mais tempo a falar e a fotografar do que a provar, e entretanto a masterclass ia começar e lá teve de ser.
Na Masterclass foram-nos dados a provar vinhos de 2003, um de cada produtor. Os brancos Ameal Loureiro, Quinta de SanJoanne Escolha e Luis Pato Vinha Formal, e os tintos Quinta da Gaivosa e Quinta dos Roques Garrafeira. Se as novidades já tinham mostrado potencial de envelhecimento, este quinteto mostrou-nos que não é só potencial. Para um gajo como eu, que qualquer dia tem que abdicar da cama para poder ter mais vinho em casa para guarda, provar vinhos com alguns anos a mostrar esta forma é o momento "Whiskas Saquetas": À volta só ouvia "bla bla bla, vinhos com 10 anos, bla bla bla" enquanto metia o nariz e a boca no copo.
No final, para aconchegar o estômago e terminar em beleza, o jantar elaborado pela equipa de Pascal Meynard, regado com vinhos dos produtores. Um menu muito bem conseguido no geral, de uma cozinha que não conhecia mas fiquei com curiosidade de conhecer mais. Os vinhos, esses, aqui ainda se sentiram mais em casa.